Yangon: quase primeiro encontro e primeiras impressões

por Jackie Mota 19.ago.2014

Myanmar Birmânia Burma Bagan Yangon 2200

Nossa primeira parada no Myanmar foi a capital Yangon. Chegamos até lá em um vôo da Nok Air saindo de Bangkok depois de um momentos de tensão no aeroporto porque a companhia dizia que nossos vistos não eram válidos. Depois de muita argumentação nos deixaram embarcar e assim que pusemos os pezinhos em território birmanês começamos a perceber que o país que encontraríamos já era bem diferente daquele que os guias e relatos mostravam.

O desembarque foi tranquilo e os funcionários da imigração foram os mais simpáticos e rápidos de todo o Sudeste Asiático, bem ao contrário do que esperávamos. O calor era absurdo, como na Tailândia, de onde vínhamos. Era difícil se acostumar. Encontramos no saguão com o funcionário da empresa que havia nos atendido e, por isso, acabamos um pouco protegidos do caos da abordagem aos turistas.

Ali naquele saguão tive minha primeira impressão sensitiva do Myanmar: o cheiro. O Myanmar tem cheiro de jasmim. Enfileiradas em linhas de nylon, as flores são vendidas aos turistas como cordões por crianças com um curto repertório em inglês no aeroporto. Não comprei nada, mas aquele cheiro suave e doce foi comigo mesmo assim.

Eu poderia ter ficado ali apenas sentindo aquele cheiro e começando a ver, olhar e ver. Mas o mau humor já tinha feito morada no meu digníssimo marido: era o jet lag dando as caras. Ele começou a reclamar de tudo e assim pegamos logo um táxi. Ali notamos, de novo, que os preços estavam subindo mais rápido do que imaginávamos. E aí, saindo do aeroporto grudamos os rostos  nas janelas do carro para, enfim, pôr os olhos sobre esse país que ansiávamos tanto por ver. E…

E nada! Tudo escuro. O carro andava, andava, andava e a gente só via ruas escuras e que mais pareciam de uma cidade pequena. Eu tinha lido que até chegar ao nosso hostel, o Mother Land Inn II, veríamos, com certeza, as luzes de Shwedagon Pagoda. Então imaginem minha decepção quando o táxi parou em frente ao hostel e eu não tinha visto nada.

Fizemos o check-in com a equipe de meninas risonhas do hostel, fomos para nosso simples quartinho e saímos correndo novamente prontos para explorar a cidade. Mas a visão da varanda do hotel era desoladora. Uma rua de terra, larga, suja, do outro lado apenas outras construções simples e a escuridão a perder de vista. Nada de iluminação pública. Tínhamos ignorado os avisos para levarmos lanternas, então ensaiamos uns passos no escuro mesmo. Mas logo vimos que isso não ia dar certo e que era perigoso e voltamos ao hotel. Pedimos uma porção de batatas – traumatizados que estávamos com a comida de Bangkok – e, enquanto discutíamos um plano para conseguir ver um pouco da cidade ainda naquele dia, fomos, os dois, abatidos pelo jet lag. Depois de um cochilo na mesa, desistimos de qualquer programa e fomos para o quarto.

Assim nosso primeira noite em Yangon foi muito diferente de tudo o que eu tinha imaginado e romanceado . Eu esperava ver templos que eram descritos como os mais impressionantes da região e ali estava eu em um quarto ultra simples, ouvindo apenas o barulho do ar-condicionado velho (e do ronco do Rômulo, que dormiu feito bebê) e travando uma luta entre o sono do jet lag que parecia prender meu corpo ao colchão e meu cérebro que me fazia querer sair correndo de pavor porque eu tinha visto uma lagartixa se esconder no canto da janela.

Eu pensava por que raios eu tinha tido a idéia de ir pro outro lado do mundo passar meu aniversário em vez de ficar em casa com meus filhotes e os que eu amo? E por que eu não tinha seguido o roteiro clássico na região e ido pra praia? Por que não tinha reservado um hotel 5 estrelas por US$ 50 dólares naquelas praias paradisíacas tailandesas? Eu ficava pensando que no dia seguinte o Rômulo ia acordar e reclamar comigo e dizer que eu tinha estragado as férias. Estávamos há poucos dias na Ásia e eu já me sentia um trapo. Me sentia suada o tempo todo naquele calor de sauna on steroids, meu cabelo praticamente já tinha o formato de coque, pois deixá-lo solto era insuportável, meu rosto tinha voltado à adolescência em um ataque de espinhas inacreditável e eu me sentia mal alimentada, pois não tinha gostado de quase nenhuma comida na Tailândia. Eu pensava que eu gostava mesmo era de conforto e de temperaturas amenas e que aquilo ali não tinha nada a ver comigo. E ali eu me arrependi de ter ido ao Myanmar.

No embate entre o sono e o pavor, o primeiro ganhou, potencializado pelo jet lag. E dormimos por horas e horas. Acordamos cedinho para pegar nosso vôo para Bagan. Na recepção, apesar da hora o atendente já estava bem disposto e risonho. E nos ofereceu um café da manhã antes de sairmos, mesmo sendo fora da hora em que era normalmente servido. Então sentamos em uma mesinha simples, com toalhinha plástica e quando peguei o creme em pó para colocar no café li no papelote: birthday. E, sim, era meu aniversário.

Senti vontade de chorar. Era tudo tão simples ali, tão simples. Mas dessa vez eu não queria chorar porque eu preferia estar em um 5 estrelas. Eu queria chorar porque sentia vergonha pelos meus pensamentos da noite anterior. Eu me senti patética. Queria chorar porque eu tinha passado a vida querendo sair pelo mundo, viajando nos livros da biblioteca do colégio de freiras no interior de Minas e quando finalmente estava acontecendo, eu me descobria apegada demais à minha casa e a pequenos confortos. Queria chorar porque aquelas pessoas estavam ali sorrindo para mim, mesmo sem saber minha língua, mesmo sem saber que era meu aniversário, mesmo sem estar na hora delas me servirem. Mesmo sem precisar, elas sorriam para mim.

Myanmar Birmânia Burma Bagan Yangon

Desde os meus 13 anos eu tenho uma relação absurdamente importante com aniversários. Foi mais ou menos nessa época que li o livro “O mundo de Sofia“, que mistura romance e história da filosofia e que tem início, justamente, no dia do aniversário de 15 anos de Sofia. E no Brasil vocês sabem como é importante o aniversário de 15 anos, especialmente para as meninas. E, ainda mais, na década de 1990 e no interior de uma sociedade tradicional. E quando eu cheguei, finalmente, aos 15 anos, eu já não achava que me encaixasse naquela sociedade. Então, meu aniversário de 15 anos foi mais ou menos o primeiro em que eu decidi que ver o mundo era mesmo o que eu queria – mesmo que, naquela época, ver o mundo se resumisse praticamente ao Rio de Janeiro e à Londres. Então, mais ou menos como os fãs de Harry Potter costumam esperar por uma carta de Hogwarts entregue por uma coruja, eu costumava esperar, ano após ano desde aquela época, que algo extraordinário me acontecesse nos meus aniversários. E sim, eu sei, não tenho mais 14, 15, 16 ou (calma, não vai muito longe) anos. Mas, ainda assim, algum pedaço daquela Jackie ainda espera que algo extraordinário aconteça, 9 de maio após 9 de maio.

Então, obviamente, a partir daquele momento, quando percebi que era meu aniversário, que eu estava no outro lado do mundo, que um pacote de creme de café se chamava birthday e que um atendente me sorria, meu dia mudou. Decidi que não teria calor, lagartixa, espinhas, sono ou falta de luz na rua que me impedisse de descobrir aquele país e aquelas pessoas que sorriam. E mais importante: que me impedisse de valorizar estar ali e de agradecer a cada um que aparecesse no meu caminho naquele dia.

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Então, encarei aquele café com leite e bolo amanteigado como o melhor e mais completo café da manhã de aniversário da minha vida. Comi feliz – mesmo, Rômulo já queria ir indo e eu fiquei lá, comendo tudo e refletindo sobre o valor das coisas. Agradeci naquele momento por não ter ido a mais um hotel 5 estrelas no meu aniversário. Por estar ao lado do homem que amo. E por conhecer gente que me sorriu, quando eu reclamava.

Nos despedimos desse hostel que foi quase tudo o que vimos de Yangon no nosso primeiro encontro. E fomos até o aeroporto quase sem piscar, pois o sol começava a iluminar Yangon e o Myanmar começava a se mostrar para a gente. Fomos olhando as ruas que já começavam a ser tomadas pelas pessoas, os homens de saias, as mulheres e crianças pintadas, as bicicletas, os ônibus antigos com a porta virada pro lado errado. Chegamos ao aeroporto já empolgados com o pouco que vimos, mesmo sem ter vislumbrado, ainda, o Shwedagon Pagoda.

Fui recebida por um colar de jasmim, que aceitei feliz. Mentira, que aceitei muito feliz para caramba. Aprendi ali como dizer obrigada – cè-zù-bèh. E carreguei comigo o cheiro do Myanmar.

aeroporto yangon

No aeroporto, com meu cordão de jasmim

No aeroporto com carinha de antigo – e bem bonito, por sinal, com partes esculpidas em madeira-, a “mágica” do meu aniversário seguiu em funcionamento. As almofadinhas do Melhores Destinos que carregávamos nas mochilas deram o sinal de que éramos brasileiros e ali fizemos amizade com o Rodrigo, um também médico que estava viajando sozinho e também ia para Bagan, só que em outra cia aérea. Bastaram os poucos minutos de espera do vôo para nascer a amizade e conhecermos o nosso companheiro ideal de viagem, que nos acompanharia nos dois dias seguintes viajando juntos por Bagan.

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Foto com Rodrigo, no aeroporto de Yangon. Amizade presentão do meu 9 de maio

Embarcamos então para Bagan. E nosso encontro com Yangon ficou adiado para a volta. Mas, hoje, posso dizer: valeu a pena esperar por Yangon.

 

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Fotos: Viaje Sim!

Texto: Jackie; Fotos: Viaje Sim!

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Publicado por Jackie Mota

Uso minha formação em jornalismo e minha experiência organizando as viagens da minha própria família para escrever posts didáticos e detalhados para poupar o SEU tempo. Nos meus textos você encontra informações práticas apuradas com responsabilidade e organizadas de acordo com as necessidades do viajante. Referências histórias e análises sobre a política e impactos do turismo também estão presentes no meu trabalho para que você viaje bem informado, seguro e consciente - sou especialista em Relações Internacionais e Mestre em Estudos Estratégicos da Segurança Internacional.

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Comentários

  1. 19 ago 2014

    Que post lindo Jackie! Interessante esses sinais que a gente recebem e que transformam uma viagem não é mesmo? Com certeza esse é um aniversário que vai ficar na lembrança. E ah… eu também li o Mundo de Sofia quando era adolescente! 🙂

    • 19 ago 2014

      Que bom que gostou, querida. Eu fiquei na duvida em postar, mas senti a necessidade de compartilhar um pouco do que senti pra que as pessoas entendam melhor o meu amor por esse país, que talvez só falar sobre os templos e passeios não dê conta. Enrão me abri mesmo rs
      Esse livro mudou minha vida irreversivelmente. Eu o li depois várias vezes, sempre pegava na biblioteca da cidade, até que um namorado ficou com dó e comprou pra mim – foi R$ 40, caríssimo na época kkkkk. Tenho até hoje e volta e meio eu o reabro.
      Não sei se vc leu outros do Jostein, mas tem um, o Dia do Curinga, que dá pra ler num dia – ou num vôo – e é uma delícia.
      beijos e obrigada pelo comentário!

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