O Porto, nosso lar em Portugal em janeiro

O ano de 2015 começou com uma experiência nova para a gente: estamos “morando” na cidade do Porto, no Norte de Portugal. O verbo morar vai entre aspas porque nossa estadia aqui é por um tempinho muito curto, apenas um mês. Mas dá para dizer que estamos morando mesmo e não apenas visitando porque temos um apartamento e uma certa rotina, já que o motivo que nos trouxe até aqui foi trabalho: Rômulo veio fazer um estágio de um mês em um hospital da Universidade do Porto. Já se passaram duas semanas desse mês em que o Porto nos servirá de casa, mas a verdade é que levou poucos dias para que a cidade nos despertasse a deliciosa sensação de estarmos no nosso lar.

Vista a partir dos jardins do Palácio de Cristal, meu “vizinho” aqui no Porto

O Porto é uma cidade apaixonante. Segunda maior cidade de Portugal, foi cenário de acontecimentos decisivos para Portugal e está bastante ligada à própria história do Brasil. Foi uma revolução iniciada aqui, a Revolução Liberal do Porto, que acabou trazendo de volta em 1821 a Família Real Portuguesa ao país, deixando nosso Brasil sob a regência de Dom Pedro I o que, de certa forma, levou à nossa independência. O próprio Dom Pedro I, que aqui em Portugal é conhecido como Dom Pedro IV, abandonou o Brasil e dirigiu-se ao Porto mais tarde, vindo defender o direito de sua filha Maria II ao trono português contra as pretensões de seu irmão Dom Miguel I. Dom Pedro deixou, literalmente, seu coração no Porto – o órgão  está na Igreja da Lapa – e uma estátua sua fica no centro de uma das principais praças da cidade.

E que praça bonita é esta! Mas é apenas uma das muitas praças,  largos e jardins do Porto, uma cidade perfeita para quem gosta de bater perna, se perder por ruelas, sentar nos banquinhos para admirar as belezas arquitetônicas e as vistas insuperáveis criadas por construções estilosas em meio a uma natureza exuberante. O Porto é uma cidade cheia de colinas e entre subidas e descidas há vários miradouros onde podemos apreciar a vista do Rio Douro, cortado por pontes belíssimas.

Estátua de Dom Pedro IV (nosso Dom Pedro I) e os lindos prédios da Avenida dos Aliados

Jardim da Cordoaria, outro “vizinho” meu

Segunda maior cidade de Portugal, atrás apenas de Lisboa, o Porto é um destino turístico perfeito, mas também uma cidade muito agradável para morar. Além das muitas atrações turísticas históricas e do charme da cidade, há uma vida cultural e gastronômica agitada e jovem, pois é uma cidade universitária. É impressionante como nos fins de semana as ruas ficam cheias de gente jovem à noite e os bares e cafés (que são muitos, muitos, muitos) lotam.

Outra característica do Porto que é apaixonante são suas muitas livrarias. Acho que nunca fui a uma cidade com tantas! E eles têm, entre elas, uma jóia: a Livraria Lello e Irmão. Infelizmente não se pode fotografar lá dentro, mas veja aqui no Google como é o interior da loja. J. K. Rowling, autora de Harry Potter e que morou uns anos no Porto, usou-a como inspiração para um dos cenários da história.

Estando no centro é fácil fazer tudo a pé, e para turismo as atrações ficam bem próximas, o que é ótimo para otimizar passeios de um dia ou dois à cidade. Mas o sistema de transporte também é ótimo, com metrô, ônibus (que tem wi-fi) e bonde elétricos antigos integrados em um cartão de transporte único que permite utilizar os vários veículos pagando apenas uma “viagem”.

Região da Ribeira, a beira do Rio Douro e uma das lindas pontes que ligam o Porto a Vila Nova Gaia

Estação de São Bento, de onde saem trens para cidades como Braga e Guimarães

E tudo isso com um custo muito bom em comparação ao resto da Europa. Tanto a estadia, quanto as atrações e serviços têm preços excelentes para a qualidade que oferecem. Farei um post sobre nosso fofíssimo apartamento depois, mas para se ter uma idéia, para o mês de janeiro, as diárias para um apartamento como o nosso, com cozinha completa, Tv, wi-fi, serviço de limpeza, além de uma decoração charmosa e uma localização perfeita, ficam entre 50 e 75 euros, dependendo do apartamento e do dia.

Um destaque do Porto sem dúvida é a gastronomia. Quem me acompanha no Instagram e Facebook tem visto como eu tenho comido bem (e muito, ok ok rs). Mas é que a comida vem sempre em “doses” muito fartas por aqui e é bastante fácil encontrar restaurantes que servem um menu de almoço (sopa + prato principal + bebida) por 5 ou 6 euros por pessoa.

Parte do nosso fofíssimo apartamento

Nossa varandinha e o jardim do prédio à direita

Vista noturna da Ponte Luiz I , na Ribeira

Além dos muitos pratos de bacalhau e outros peixes, come-se bastante carne de porco. Aliás, os habitantes do Porto são conhecidos como “tripeiros”, por terem como um dos pratos típicos a tripa de porco. A tradição teria começado porque as tripas eram tudo o que sobrava de carnes após a saída dos navios para transportar o vinho “do Porto” para a Inglaterra. Os habitantes começaram a preparar então essas “sobras” e, como ficou bom, virou um costume comê-las. Eu ainda não tive coragem de prová-las, mas não vou sair daqui sem fazê-lo.

Elétrico no passeio até a foz do Rio Douro

No entanto, um outro prato tradicional ligado ao porco eu já provei e adorei: a alheira. Nada mais é que linguiça de carnes brancas bem temperada. Sua invenção é creditada à população judia da cidade. Sempre perseguidos, os judeus teriam criado a alheira para se “misturarem” à população, já que tradicionalmente não consumiam a carne do porco. Com a alheira pendurada em suas cozinhas, eles se passavam por típicos “tripeiros”. Outro dos meus pratos preferidos daqui é o Arroz de feijão – arroz feito no caldo do feijão, normalmente feijão “verde”, e que pode incluir a “penca”, uma espécie de couve. É uma delícia!

Azulejos reproduzem a paisagem nos jardins do palácio de cristal

Em cima de trecho da muralha da cidade, com o Douro à frente

Alguns produtos locais no Mercado do Bolhão

Ainda na cena gastronômica não posso deixar de citar, claro, os doces e o vinho. Basicamente há uma coisa a saber nessas áreas: todos os doces e todos os vinhos são gostosos. Como é fácil viver assim, não? Em qualquer restaurante, pastelaria ou bar basta pedir o vinho da casa e paga-se barato por uma boa bebida. Eu não tenho paladar apurado e meu sistema de classificação de vinhos tem dois critérios: gostei e não gostei. Pois bem, por aqui todos estiveram até agora na primeira categoria. Os vinhos da região do Douro me agradaram muito, assim como vinho verde, que é mais refrescante e um pouco gaseificado (ótimo pro verão). Já o vinho do Porto mesmo, que é, na verdade, uma mistura de vinho com alguma outra bebida como brandy ou aguardente, não me conquistou. Os doces, quase todos de ovos, também não dificultam nossa vida aqui. Até agora já compramos em padarias mais tradicionais, casas mais novas, de rede e até mercados, e sempre são deliciosos.

O Porto é ainda uma ótima base para conhecer a região do Douro, Minho e Beiras, pois tem ligação de trem a diversas cidades bacanas por aqui para fazer passeios de bate-volta (ida e volta no mesmo dia). Por isso acho que um bom roteiro em Portugal deve incluir uns 4 dias na cidade, para conhecer o Porto e fazer uns passeios. A cidade também fica a distâncias razoáveis de carro para outros destinos para um fim de semana e as estradas portuguesas, tanto as principais (autoestradas) quando as regionais, são muito boas. Então, estadias mais longas aqui, como a nossa, podem incluir passeios a outras regiões do país tranquilamente.

Nessas duas primeiras semanas aqui nós já fizemos dois passeios de bate-volta usando os trens urbanos, que custam 6,20 euros ida e volta por pessoa. Fomos a Braga, a terceira maior cidade do país e cuja atração mais famosa é a Igreja de Bom Jesus do Monte e sua escadaria, e também a Guimarães, uma cidadezinha pequena considerada o berço de Portugal. Ainda vamos fazer outros passeios desses, sempre que uma tarde ou manhã estiver livre.

Bom Jesus do Monte, em Braga

Guimarães: passeio de bate-volta a partir do Porto

Castelo em Guimarães

Fotografando o lindo pôr-do-sol na Penha, em Guimarães

No fim de semana passado nós alugamos um carro e aí fizemos um roteiro delicioso. Fugindo da chuva, que pela primeira vez em 15 dias deu as caras, descemos até mais ao sul e revisitamos Lisboa em um dia. De lá fomos para a região do Alentejo e conhecemos a deliciosa Évora. Subindo de volta visitamos o Palácio Nacional de Mafra e jantamos em Aveiro, a “Veneza portuguesa”. Nossa idéia é fazer outro roteiro de carro no próximo fim de semana.

Ponte Vasco da Gama, em Lisboa, onde passamos a caminho de Évora

Vista de Lisboa a partir do Castelo de São Jorge

O Palácio Nacional de Mafra: são 1200 quartos!

E uma biblioteca incrível: 36 mil volumes nessa sala lindíssima

Uma surpresa deliciosa no Alentejo: Évora. Na foto marido está admirando o templo romano de Diana

A belíssima catedral de Évora

Não sei se você reparou, mas ao longo do teto expliquei por algumas vezes o que queria dizer uma palavra, ou usei aspas para outras. O motivo é que apesar de aqui se falar a mesma língua que no Brasil, há algumas diferenças. Eu adoro o sotaque o português e, no geral, minha sensação é de que estou conversando com alguém que fala de forma muito erudita e correta. É bem fácil entender, apenas quando eles falam muito rápido fico perdida e uma de nossas diversões é encontrar palavras com significados diferentes ou aprender a usar as mesmas estruturas que eles.

Uma diferença quanto à estrutura, por exemplo, é o gerúndio, que aqui não se ouve. Então, em vez de dizer estou morando no Porto”, eles dizem “estou a morar no Porto”. Há palavras um pouco diferentes como, por exemplo, os trens são “comboios” e os ônibus “autocarros”; outras bem diferentes mesmo, como “montra”, que significa vitrine e “giro”, “gira” e  “fixe”, que significam legal, bacana. E, claro, há aquelas palavras que rendem piadas como “puto”, que nada mais é que menino ou “rapariga”, que significa menina, moça.

Cartaz em Lisboa pede que por favor, não se lamba a vitrine. Super compreendo, a comida é mesmo linda e irresistível hahaha

Por fim, a somar-se a todos estes atrativos do Porto está o povo. Mesmo antes de chegarmos vínhamos sendo super bem tratados. A negociação do nosso apartamento, por exemplo, foi tão simples e simpática, que nos impressionou. Quando desembarcamos aqui em um domingo à noite, já bem tarde, fomos acolhidos em um restaurante que já estava fechando suas portas, mas cujo pessoal fez questão de nos servir e o fez de forma muito gentil. A ótima recepção vem se repetindo em muitos outros restaurantes, museus e lojas. Ficamos sempre positivamente impressionados com a simpatia dos tripeiros.

Vista da Torre dos Clérigos, no Porto

Lateral da Igreja do Carmo e seus azulejos, no Porto

Bom, acho que deu para perceber que é oficial: estamos apaixonados pelo Porto, o nosso lar português. Para acompanhar nossa estadia aqui siga-nos no Instagram, Facebook e Twitter. E qualquer pergunta ou sugestão é só falar nos comentários!

Pôr-do-sol na Foz do Rio Douro

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Publicado por Jackie Mota

Uso minha formação em jornalismo e minha experiência organizando as viagens da minha própria família para escrever posts didáticos e detalhados para poupar o SEU tempo. Nos meus textos você encontra informações práticas apuradas com responsabilidade e organizadas de acordo com as necessidades do viajante. Referências histórias e análises sobre a política e impactos do turismo também estão presentes no meu trabalho para que você viaje bem informado, seguro e consciente - sou especialista em Relações Internacionais e Mestre em Estudos Estratégicos da Segurança Internacional.

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